Dicas importantes de pilotagem e
comportamento para motociclistas durante essa época do ano, repleta de
precipatações.
Pilotar
motos é uma atividade que envolve riscos, no entanto, muitos desses são
assumidos por pura ignorância de como proceder corretamente. No intuito de lhe
alertar, caro colega, juntei nas próximas linhas, todo meu conhecimento
relativo a pilotagem na chuva, para que possa se precaver nessa época do ano,
quando é muito fácil ser surpreendido por mau tempo.
Antes de sair
Ao
planejar sua saída de moto ou viagem, busque informações meteorológicas a
respeito do trajeto que pretende cumprir. Independente da previsão, prepare-se
para a possibilidade de encontrar em algum instante tempo ruim. Um ítem que não
pode lhe faltar por mais curto que seja seu percurso é a roupa protetora de
chuva.
Ao
arrumar a bagagem, certifique-se de acomodá-la de forma que possa ficar seca.
Um bom truque é usar sacolas plásticas para envolver roupas, documentos,
aparelhos eletrônicos e tudo mais que de alguma forma possa ser danificado pela
água. Acondicione a roupa de chuva de maneira a ter fácil acesso a ela em caso
de necessidade.
Inspecione
adequadamente a moto – dê especial atenção às luzes e estado dos pneus.
Roupas & acessórios
Existe
no mercado uma infinidade de marcas e modelos de roupas motociclísticas
construídas para essa finalidade. As melhores normalmente também são as mais
caras, e nem sempre cumprem integralmente a tarefa de isolar-nos da água. Uma
solução que tem se mostrado eficiente é a duplicação de roupas com essas
características – uma boa roupa de cordura a prova d` água embaixo, e um
macacão de chuva simples, de material mais fino, como nylon, por cima. Cores
claras ou chamativas para essas peças são extremamente importantes. Se tiver
que parar na estrada para colocar as roupas, escolha um lugar seguro, fora da
trajetória de outros veículos. Lembre-se que a visão deles também está
restringida.
Para as
mãos, uma alternativa barata às luvas impermeáveis é usar luvas cirúrgicas de
látex por baixo das tradicionais motociclísticas. São baratas e podem ser encontradas
em qualquer farmácia, além de não ocuparem muito espaço. Elas oferecem bom
isolamento da água e tiram muito pouco da sensibilidade natural.
Os pés
também são problemáticos na chuva por receberem uma quantidade significativa de
água, principalmente pela proximidade com que se encontram em relação ao solo.
Mesmo as botas completamente impermeáveis acabam permitindo alguma umidade, por
isso outras formas de complementar o isolamento podem ser aplicadas. Uma
alternativa são as galochas, ou polainas, que se põem por cima das botas, mas
tem o inconveniente de prejudicar um pouco a parte operacional, por conta do
excesso de material e a maneira de se fixarem ao calçado. Outra maneira de
contornar esse problema é o uso de sacolas plásticas para envolver os pés, mas
esse método também tem seus inconvenientes, uma vez que não permite uma
ventilação adequada.
Independente
do método, é essencial proporcionar conforto suficiente para que se possa
manter atenção total na pilotagem. Nada é pior que ter que prestar atenção em
uma atividade, e ser distraído por outra – nesse caso a chuva e o frio molhando
regiões sensíveis.
Para a
cabeça, existem poucas soluções – alguns capuzes podem ser utilizados embaixo
do capacete para manter uma temperatura agradável, mas a não ser que sejam de
neoprene, não isolarão a água. Lembre-se de colocar o capacete em lugar bem
arejado para secar após pegar uma chuva – permitir que fique muito tempo úmido,
acaba gerando um odor desagradável, além de diminuir a vida útil.
Visibilidade
A chuva
não afeta apenas a dirigibilidade, também afeta bastante a visibilidade. Quando
possível e viável, utilize produtos anti-embaçantes para a viseira na parte
interna, e repelente de água para a parte externa. Caso não seja possível, abra
uma fresta da viseira para aumentar o fluxo de ar dentro do capacete, evitando
assim o embaçamento. Não permita que uma abertura exagerada da mesma exponha
sua linha de visão à água e ao vento. Evite transitar próximo de outros
veículos, pois eles levantam a água em forma de spray, dificultando ainda mais
a visão. Lembre-se constantemente que quanto maior a distância de visão à
frente um piloto tem, mais tempo tem para reagir a qualquer evento que aconteça
nesse interim.
Características do pavimento
Diferentes
tipos de pavimento oferecem diferentes tipos de aderência quando molhados. O
asfalto tem características distintas em diferentes fases da chuva – em seu
início, tem a menor aderência pela quantidade de água ainda não ser suficiente
para lavar e escoar do piso a sujeira acumulada. O mesmo, mas em menor grau,
acontece no fim da chuva quando os veículos novamente começam a depositar
sujeira no asfalto. Em termos de aderência, a melhor escolha é quando está
efetivamente chovendo, por ter que lidar apenas com o asfalto limpo e água.
Escolha
para passar sempre aonde parecer mais opaco invés de brilhante – superfícies
reflexivas tendem a ser também escorregadias. Opte também por caminhos que
aparentarem ser mais claros invés dos escuros, pois podem abrigar todo tipo de
detritos, mascarados pela tonalidade do terreno. Nunca é demais lembrar que as
faixas de sinalização pintadas no solo são escorregadias, especialmente na
chuva. Evite fazer curvas e frear sobre elas. O mesmo cuidado vale para tampas de
esgoto e placas metálicas usadas para tampar algumas obras. Se tiver de
interagir com terra molhada invés de asfalto, diminua drasticamente a
velocidade, independente do tipo de moto que pilota. As motos com
características vocacionais para o fora-de-estrada também escorregam nessas
circunstâncias, apesar de serem as mais apropriadas para lidar com todo tipo de
irregularidade no piso.
Fique
atento para rajadas de vento principalmente presentes nas chuvas de verão. Além
de dificultarem a pilotagem por exigir correções a todo o momento, corre-se o
risco de que tragam para a pista todo tipo de sujeira, inclusive vegetação. Acúmulos
de água são particularmente perigosos, porque podem esconder buracos ou
imperfeições na pista.
Aquaplanagem
A
aquaplanagem é um fenômeno de perda de controle da moto associado a uma
determinada quantidade de água. Ela acontece quando o volume de água existente
entre um dado pneu e o pavimento é superior a capacidade de drenagem desse
pneu. Portanto os fatores que influenciam na aquaplanagem são:
1. Tipo
do pneu – forma e profundidade de seus sulcos. Quanto mais profundos e próximos
estiverem os sulcos (cavidades) tanto maior será a capacidade de drenagem do
pneu, ficando mais dificil aquaplanar.
2. O
peso da moto – quanto mais pesada, mais tardiamente tende a aquaplanar. As
motos leves, nesse caso, sofrem maior tendência que as pesadas frente a um
mesmo ambiente. Isso é devido a pressão que exercem sobre o solo a cada cm² de
apoio.
3. A
velocidade – quanto menor for, mais tempo o pneu incide sobre o pavimento em
determinado trecho, diminuindo a possibilidade da aquaplanagem. Se sentir qualquer instabilidade, diminuir a
velocidade será sempre a primeira coisa a realizar.
4. O
volume de água – Uma coisa interessante sobre aquaplanagem com motos é que
normalmente o pneu traseiro aquaplana antes do dianteiro, quando o volume de
água ainda é viável ser enfrentado em movimento. Isso se deve a roda traseira
ser ativa frente ao solo por conta da tração exercida, enquanto a dianteira é
passiva. Isso quer dizer que na maioria das circunstâncias, o piloto é
"avisado" pelo comportamento da moto que a velocidade está excedendo
a capacidade que aquele pneu tem de drenar a água. Acontecendo antes com a roda
traseira, não se perde o controle com a mesma facilidade com que se perde quando
a roda sem controle é a dianteira. Uma mudança de velocidade deve colocá-lo
novamente em controle.
Pneus são críticos
Tratando
se de pisos escorregadios, os pneus são o item mais importante para a
segurança. Tenha certeza de que os seus se encontram em bom estado, e calibrados
corretamente.
Motos
com propostas diferentes de uso também contarão com diferentes tipos de pneu.
As do tipo “off road” normalmente tem sulcos maiores e mais profundos, para que
drenem com maior eficiência os detritos. Já as esportivas, que privilegiam uma
maior quantidade de borracha em contato com o solo, têm sulcos rasos e em menor
quantidade. Isso faz com que esses modelos sejam particularmente perigosos em
dias de chuva. As motos do tipo “street” e “custom” se encontram entre elas,
oferecendo uma condição mediana.
Pilotagem delicada
Pilotar
na chuva não é uma experiência das mais agradáveis, no entanto, pode ser muito
educativa. Se houver a possibilidade de parar e esperar por condições melhores,
será a solução mais prudente. Não sendo viável, promova uma pilotagem
extra-suave, diminuindo a velocidade e redobrando a atenção. Necessitará de
maiores distâncias para frear, exigindo que faça um planejamento mais cuidadoso
– principalmente com relação a distâncias de outros veículos. De tempos em
tempos faça pequenos testes de frenagem usando o freio traseiro. Busque
suavemente identificar até aonde pode exercer pressão sem que a roda derrape.
Dessa forma, pode ter uma razoável ideia de comportamento e distância que
necessitará em caso emergencial. Outra medida salutar é usar também o freio
dianteiro com regularidade para manter as pastilhas e discos secos e aquecidos
o quanto for possível. Sua eficiência fica bastante comprometida enquanto frios
e molhados.
Segure
o ímpeto de andar rápido para acabar logo com o “tormento” – é preferível ter
paciência e executar toda ação com muita certeza.
As
motos de uma maneira geral têm comportamento mais “arisco” em pisos molhados,
exigindo bastante sensibilidade e atenção – uma pilotagem delicada e atenciosa
normalmente faz com que a experiência possa ser considerada no mínimo exótica.
Quando
em curva, dê preferência a uma postura corporal que se assemelhe a usada por
pilotos off-road, onde o tronco permanece na vertical apesar da inclinação da
moto. Essa postura de oposição angular faz com que maior peso incida na parte
do pneu que está do lado externo da curva, favorecendo a tração.
Como
pilotar sob forte chuva aumenta – e muito – o nível de tensão, faça paradas
mais freqüentes para relaxar a musculatura contraída, e aliviar o stress.
Não se
engane – pilotar na chuva é perigoso e requer toda a sua atenção, mas apesar do
risco, constitui experiência que não pode ser desprezada.
Parabéns belíssima explanação.
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