quarta-feira, 20 de março de 2013

Viajando em meio às florestas


O contato com a natureza em todos os sentidos possíveis. 

Uma boa parte do nosso país - e de nosso continente - é formada por regiões de florestas. São nítidas - e óbvias - as diferenças entre estas regiões e as áreas de desertos (assunto da edição passada), ainda assim pode-se dizer que entre as duas existem semelhanças como baixo índice populacional, falta de cidades ou povoados (com recursos como alimentação e manutenção), enfim são geralmente lugares inóspitos e desafiadores.
A região de floresta costuma trazer muita adrenalina e também prazer em se conviver com as adversidades que se apresentam e, claro, superá-las. O planejamento das incursões nestas áreas devem ser muito bem preparado e detalhado, pois qualquer problema aqui, apresenta uma dificuldade muito maior do que em outras regiões mais habitadas. É de bom tom que seu projeto conte sempre com a possibilidade de um “plano B”, caso seja necessário. O ideal é dividir sua viagem em trechos, iniciando um segmento a cada manhã com destino para pernoitar em um local seguro mesmo que ele seja atingido antes do anoitecer. Em alguns casos à distância até a próxima localidade é grande demais e pode ser necessário deslocar-se a noite, o que aumenta os riscos da sua viagem. Nessa situação tenha sempre em mente: vale mais rodar uma quantidade menor de quilômetros mas estar em segurança - principalmente ao cair da noite - do que arriscar-se desnecessariamente só para ganhar tempo. Em trechos não pavimentados de rodovias em florestas, a média de "rendimento" da viagem cai bastante, em torno de 30 km/hora (considerando uma pilotagem segura e cautelosa). Estipule trechos diários de 300 a 400 kms para não fadigar o corpo e não abusar das situações de risco.

Lembre-se sempre que este tipo de ambiente (floresta) não é um bom lugar para interagir com a fauna. Ao se deparar com animais silvestres é aconselhável que permaneça observando e fotografando apenas à distância, por mais tentador que seja oferecer-lhes comida ou tentar tocá-los. Não se esqueça, por mais que pareçam dóceis e afáveis, ainda assim são animais selvagens.
Acampar também é uma opção arriscada. Evite sempre que possível. Florestas são habitat de animais peçonhentos (serpentes, aranhas entre outros) que podem lhe oferecer risco de morte. Mais um motivo pra planejar seu pernoite em local urbanizado quando houver. Em caso de emergência opte por uma rede suspensa entre duas arvores. Muitas espécies de animais têm hábitos predatórios noturnos, então locais que, aparentemente, são bons para acampar quando vistos durante o dia, podem se tornar território de caça ao cair da noite. Evite o máximo possível esse tipo de opção.
A água e a comida são fatores que devem ter um planejamento cuidadoso. Embora seja comum passarmos por diversos rios ou riachos à beira da estrada, nem sempre é aconselhável beber desta água in natura, ou seja, sem tratamento de desinfecção. Caso julgue necessário carregue consigo produtos químicos (normalmente pastilhas) que tornam a água potável, achados facilmente no mercado. Mas lembre-se, esse é um recurso emergencial, tenha sempre com você água mineral engarrafada. Quanto à alimentação, a pilotagem em condições mais duras aumenta nossa necessidade de energia, leve sempre algumas barras de cereais com você. Em viagens com trechos mais longos nestas regiões, procure ter com você produtos alimentícios industrializados (em virtude da melhor conservação) e com alto valor calórico (chocolates, bolachas,etc.).

Alguns cuidados básicos durante a pilotagem devem ser adotados. As estradas de regiões de florestas mais densas - onde a umidade do solo é maior e o sol demora a penetrar através da vegetação - costumam "secar" mais lentamente, exigindo pilotagem mais suave e alerta em períodos chuvosos. É normal encontrar trechos abertos secos e uma parte da rodovia sombreada com lama no leito da estrada. Também ocorrem chuvas em maior quantidade nas regiões de floresta, que podem favorecer o aparecimento de buracos ou valas nos leitos das estradas - pedras e buracos podem ficar escondidos nas poças de água.  Geralmente os trechos de floresta no Brasil - como exemplo a rodovia Transamazônica - tem em seu roteiro dezenas de pontes em madeira. Passe sempre devagar sobre elas pois podem haver parafusos ou pregos salientes e tábuas soltas que "ricocheteiam" quando o pneu dianteiro da moto pesa sobre elas. Ainda em caso de chuva a madeira dessas pontes costuma ficar extremamente escorregadia. Muita atenção também com os conhecidos "mata-burros", pois em muitos casos tem um vão no centro, transformando-se numa armadilha potencialmente perigosa para motociclistas.
Mesmo com estradas pavimentadas, devemos pilotar observando alguns cuidados: devido à proximidade constante com árvores, o asfalto pode estar coberto com uma camada de folhas, resinas e outros detritos tornando-o um piso bastante instável e perigoso. Conforme a hora do dia, a sombra dessas árvores contrasta com o sol formando pontos escuros que podem esconder obstáculos na via. Também preste sempre atenção às entradas e acessos a estradas vicinais e fazendas, geralmente obstruídos pela vegetação alta, o que pode diminuir o seu campo de visão.

A oferta de combustível, ou a falta dela, é outro ponto crucial desta aventura, pois às vezes temos dificuldades de encontrá-lo. Mais uma vez, lembramos que apesar da proibição legal do transporte de combustível extra, muitas vezes não nos resta outra opção. Se, por ventura, for preciso levar combustível extra, procure sempre fazê-lo utilizando recipientes apropriados para esse tipo de líquido.
No Brasil, na região Amazônica (BR 230, Transamazônica, BR 163 Cuiabá/Santarém, por exemplo) os trechos de off road são marcantes por terrenos ondulados, pontes de madeira, curvas e pick-ups circulando em velocidades superior a das motos. Cuidado nas curvas! Também conforme o clima o caminho pode ter pedriscos soltos (piçarra), bolsões de areia fofa (talco) ou barro extremamente envolvente com chuva. Outro cuidado muito importante é em relação ao acumulo desta piçarra na beirada dos leitos destas estradas, pois além de serem muito instáveis, situam-se numa posição crítica, deixando pouca margem para correções de trajetória.
Algumas rodovias em países vizinhos que cortam florestas como a Carretera de la Muerte (Bolivia) e a Carretera do Pacifico (Peru) destacam fortes chuvas em determinadas épocas do ano. Atenção perto de encostas onde é comum caírem pedras ou detritos sobre a pista.  Asfalto molhado no interior da mata é sempre escorregadio, assim é o pavimento no interior da Venezuela e também na Serra do Mar na Estrada da Graciosa.
Como um item de segurança adicional o mercado oferece rastreadores portáteis que permitem que o usuário seja acompanhado em tempo real via satélite. Estes aparelhos também têm possibilidades de envio de um "pedido de socorro", que costuma ter níveis diferentes de prioridade de acordo com o problema que o usuário estiver enfrentando, para que seja providenciado auxílio por terceiros. É um acessório muito bem vindo nessas condições de viagem (e também em desertos, por exemplo).

Essas são algumas dicas que reunimos para facilitar a vida dos motociclistas com um nível de exigência de adrenalina maior em suas viagens de moto e querem encarar os desafios de rodar por florestas.  Boa viagem!

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