Dicas para promover maior eficiência e
controle de sua moto quando da troca de marchas.
Esse texto foi originalmente produzido
há cinco anos, mas pela relevância e perguntas frequentes sobre o tema
ultimamente, achei oportuno reeditá-lo para essa edição.
A grande maioria das pessoas que procura
um curso de pilotagem encontra neste tema dificuldade que deve logo ser sanada
para que a operação da pilotagem corra de maneira mais fluida. É imprescindível
dominar a operação da troca de marchas para se garantir a estabilidade do
conjunto, que sem domínio, pode ser perdido facilmente, acarretando um
acidente. Veja a seguir um conjunto de medidas que podem lhe auxiliar a dominar
esse aspecto operacional de sua moto.
Análise
O motor possui câmbio para que possa
transmitir sua energia para a roda em diferentes velocidades. Conforme a
velocidade evolui, torna-se necessário engatar marchas mais “altas”, que
permitem que as rotações do motor possam gerar maior velocidade na roda. Mas
essa transição deve ocorrer de tal forma que retire o quanto menos da
velocidade, em um tempo apropriado ao desempenho do motor.
A embreagem tem papel fundamental nessa
troca, uma vez que é ela quem permite que o motor seja temporariamente
desengatado do conjunto da tração e depois da troca efetuada, seja novamente
incorporado ao movimento.
O uso coordenado dos respectivos
comandos garante que a transição ocorra de maneira suave, gerando linearidade e
constância no deslocamento.
Cada motor tem suas próprias
características de desempenho. Uns privilegiam rotações mais baixas, outros de
cunho mais esportivo, privilegiam as rotações mais altas. Essas características
– entre outras – acabam determinando o tipo de câmbio que ele utilizará.
Na maioria das motos que possuem câmbio
mecânico, as trocas de marcha são feitas coordenando-se a ação da mão e pé
esquerdos – no entanto, para maior eficiência e suavidade, o acelerador também
é usado em algumas instâncias. Analisando a ação de cada membro isoladamente,
percebe-se que são movimentos com forças, amplitudes e propósitos distintos.
Energia
no pé
O pé esquerdo tem o papel de levar a
alavanca de câmbio para a posição seguinte, seja subindo ou descendo o
escalonamento, cumprindo um determinado curso da sua posição de neutralidade
para a posição de acionamento. Esse pedal foi construído de maneira a poder ser
usado com certa energia, uma vez que no pé não temos movimentos tão precisos
quanto na mão, além desse membro estar envolto normalmente em material que
retira ainda mais a sensibilidade.
A maior deficiência que encontro por
conta dessa operação é por constatar que somos seres simétricos. Normalmente o
movimento que executamos com uma mão ou pé, tende a ser replicado no mesmo
sentido e intensidade pelo lado oposto. Por utilizarmos o pé direito na
operação do freio traseiro, e por ser mais delicado e crítico, tendemos a
transpor a sensibilidade usada no comando, para o pé esquerdo também. Dessa
forma, com excesso de delicadeza, o pé esquerdo acaba não cumprindo
integralmente o curso necessário da alavanca, proporcionando um falso “neutro”
entre marchas. A maioria dos motociclistas já passou vez ou outra por essa
situação, mas não sabe explicar o porquê do acontecimento. Torna-se então
necessário, que o pé seja treinado com a força e amplitude que lhe serão
requeridas pelo processo. Bastam alguns minutos treinando especificamente essas
trocas, prestando atenção ao movimento e força necessários para cumprir
integralmente o curso do pedal, para re-calibrar o pé esquerdo.
Controle
da embreagem
A embreagem é acionada através de um
processo de alavanca. Como tal, requer também um entendimento de sua
funcionalidade, para que possa ocorrer uma melhora na forma como é manuseada. O
acionamento e retorno (apertar e desapertar da alavanca) determinam como a
energia do motor está sendo incorporada ao movimento. O acionamento da alavanca
significa a retirada da energia do motor enquanto o retorno à posição de
descanso da alavanca, incorpora a energia do motor ao movimento. São ações
distintas e devem ser usadas apropriadamente. O ato de apertar a alavanca pode
ser feito de maneira rápida, enérgica, pois não prejudica tanto o deslocamento
uma vez que a inércia que a moto obteve, suavizará essa brusca retirada de
energia aplicada à roda.
Já para incorporar energia a um objeto
em processo de desaceleração (que é o que acontece quando a embreagem está
acionada), é preciso proceder de forma gradual, permitindo que aos poucos se
ajuste ao deslocamento, sem provocar maiores oscilações do centro de gravidade.
Portanto, a alavanca deve ser liberada de forma suave e progressiva. Busque
sentir pelo comportamento da moto o quanto é necessário mover o manete para
obter essa uniformidade.
Frequentemente me perguntam se a
quantidade de dedos usados para acionamento interfere de alguma forma no
controle. Se imaginarmos que temos a disposição quatro dedos para a execução
dessa tarefa, o ideal é que todos sejam utilizados uma vez que a força
disponibilizada será dividida entre os quatro, tornando a operação menos
desgastante. No entanto, cabe uma ressalva importante: cada piloto encontra uma
forma com que se sente mais confortável; uns usam dois outros três dedos. O importante
é que tenha precisão no manuseio.
Metodologia
O uso do câmbio e embreagem se divide em
duas tarefas: as mudanças para aumento de velocidade e as mudanças para redução
da velocidade. Para as mudanças de aumento, ou “para cima” como também são descritas,
não há necessidade de promover qualquer uso do acelerador durante o processo,
uma vez que as rotações do motor que estão por vir são inferiores às praticadas
até aquele momento. Já para as reduções, para a maioria das motos é funcional
promover uma pequena aceleração no momento da troca, com o objetivo de elevar
as rotações para o nível que se encontrarão quando a nova marcha for aplicada.
Dessa forma a redução fica suavizada, promovendo menor oscilação do centro de
gravidade. A cronologia desse evento ficaria assim:
1. O manete da embreagem é apertado.
2. O pedal de câmbio é acionado e
simultaneamente o acelerador é aplicado em um movimento curto e rápido.
3. O manete da embreagem é
gradativamente liberado.
O segredo da suavização na troca de
marchas reside exclusivamente no controle da embreagem. Procura-se trabalhar um
determinado ponto entre embreagem totalmente apertada e totalmente liberada. É
o ponto dos 50%. Quando o manete se encontra nessa posição onde a moto está
recebendo parcialmente a energia, mas ainda “patina”, obtém-se o melhor
controle da moto, promovendo pouca transferência de peso para frente ou para
trás, garantindo melhor equilíbrio.
Conheça
sua moto
É importante “ouvir” o que o motor lhe
pede em termos de marcha. As trocas mais suaves são sempre obtidas em regimes
próximos ao do nível mínimo, ou marcha lenta. Quando o assunto é desempenho – e
não suavidade – buscam-se as rotações mais próximas à sua faixa máxima de
atuação, onde normalmente estão o melhor torque e potência. Nota-se, portanto,
que existe uma troca, a da suavidade pelo desempenho, determinada pela intenção
do piloto.
Com o avanço da tecnologia, essa
atividade tende a se tornar obsoleta, sendo gradativamente substituída por
câmbios automáticos inteligentes, que farão automaticamente essa tarefa – visto
nos scooters de hoje. Com uma tarefa a menos na pilotagem, sobrará mais tempo
para se focar em como interagir melhor com o meio. Enquanto isso...
Outras
considerações
A eficiência nas trocas de marcha se
resume – como para a maioria das coisas – em treino. A ação executada
pela mão esquerda é única. Não existe outra atividade que exija esse tipo de
movimento, por isso é necessário treinar a mão e fortalecer os dedos. Recomendo
a compra de uma bolinha de espuma que facilmente pode ser encontrada em farmácias. Quando
não estiver fazendo algo importante, exercite os dedos fortalecendo a
musculatura para ganhar maior precisão no movimento. Treine o ponto dos 50% em
uma subida moderada, como uma rampa, de forma a manter a moto parada apenas
usando o motor e a embreagem. Tenha em mente que essa atividade provoca
desgaste no conjunto e que deve ser usada com moderação, mas também tenha
ciência da importância que o exercício tem, para melhorar o controle sobre a
moto.
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