Grupo Bosch desenvolve ABS para motos de
baixa cilindrada
Na última edição da coluna Performance
escrevi a respeito do funcionamento e aplicação de freios dotados de sistema
antibloqueio de rodas, ou ABS. A motivação para tratar a matéria veio da
observação de como a tecnologia vem avançando para produzir veículos que sejam
cada vez mais seguros, e da necessidade que temos de assimilar as inovações.
Afinal, não é útil ter-se a tecnologia sem saber como utilizá-la.
O mercado está cheio de dispositivos que
visam simplificar a operação de condução de todo tipo de veículos. São sensores
de estacionamento, computadores de bordo, controladores automáticos de
velocidade, sistemas de monitoramento da pressão de pneus, mapeadores de
injeção de combustível, controladores de tração e também o ABS – isso para
mencionar apenas alguns. A função de todos esses dispositivos é facilitar a
operação de cada veículo para que maior atenção possa ser dada à forma como
interagimos com outros veículos e pessoas no contexto do trânsito, além de
gerar maior segurança ao usuário. Pelo menos deveria ser. Tornar todos os
veículos mais seguros, também deveria ser meta de qualquer governo que zele
pelo bem estar de sua sociedade, uma vez que as estatísticas colocam a morte no
trânsito, como um dos grandes problemas de saúde pública.
Infelizmente, nós motociclistas, estamos
encabeçando essas terríveis estatísticas, uma vez que somos protagonistas de um
número cada vez maior de acidentes. Curiosamente, nossos veículos, apesar de
serem os mais frágeis dentre todos os motorizados, são quase sempre os últimos
a receberem todo tipo de inovação tecnológica visando à segurança. Não cabe
levantar agora as causas desse descaso, por assim dizer, mas valorizar as ações
construtivas que permitiram que hoje tivéssemos acesso a uma moto com câmbio
automático, controle de tração, computador de bordo e freios ABS. Mesmo que a
tecnologia só esteja a disposição de uma minúscula parcela de usuários, que
podem pagar por ela.
Foi bastante oportuno ter tratado do
assunto naquela edição, pois logo depois de ter produzido a matéria referente
ao uso do ABS, fui convidado a participar de uma apresentação oferecida pelo
grupo Bosch, em sua fábrica em Campinas - SP. A apresentação para a mídia
especializada foi referente ao desenvolvimento de um novo sistema de freios ABS,
exclusivo para motos.
O ABS, de nona geração, foi desenvolvido
pela empresa de origem alemã visando tornar o sistema mais popular e permitir
que pudesse ser adotado para a maioria das motos fabricadas em nossas linhas
produtivas. A Bosch levou em conta que mais de 90% das motos fabricadas no país
é de motos de até 250 cc, precisando então ser um sistema leve e barato. O novo
sistema deriva da versão para automóveis, mas foi concebido com exclusividade
para motos. É o mais compacto a ser produzido, pesando apenas 700 gramas, e em
princípio, poderia ser utilizado para qualquer moto – desde que a mesma fosse
equipada com freios hidráulicos à disco em ambas as rodas. Um detalhe – o
sistema só pode ser implantado em motos novas durante seu processo de
manufatura, o que de fato não resolve o problema de todo o resto da frota
circulante, que não possui o sistema, e tampouco poderá instalá-lo. Mas já é um
começo. Se todas as motos fossem produzidas com freios ABS, poderíamos diminuir
drasticamente o nível de acidentes envolvendo-as, conforme a frota fosse se
renovando.
Esse dado não é inventado. Uma pesquisa
feita pela Bosch mostrou que o uso de apenas dessa tecnologia, poderia
contribuir com uma dramática redução de acidentes com esse tipo de veículo. A
Bosch usou informações do banco de dados de acidentes da Alemanha, o GIDAS,
para apurar que 47% dos acidentes com moto são causados por frenagem falha ou
hesitante. Outro estudo, realizado pela administração rodoviária da Suécia em
2009, estimou que 38% dos acidentes de moto com feridos e 48% de todos os
acidentes graves e fatais poderiam ter sido evitados com a adoção e uso de
freios com ABS.
Já na América Latina, a Bosch conduziu
pesquisa própria entrevistando 750 motociclistas brasileiros e argentinos para
conhecer mais de perto as expectativas dos usuários desse tipo de veículo. Os
dados mostraram que 77% dos entrevistados realizam frequentemente frenagens
emergenciais e que 40% dos pilotos freiam com menos força do que gostariam, por
medo de travar as rodas. A escolha dos países se deu por serem os maiores
mercados de motos no continente.
O que esses dados apontam, em última
instância, é que não basta termos a tecnologia – devemos implantá-la o quanto
antes, para tentar reverter esse quadro medonho. O que também fica patente é
que não é um esforço que possa ser aplicado unilateralmente, mas sim em
conjunto com os outros interessados, como o estado, através de políticas que
visem a segurança do motociclista, o fabricante de veículos, adotando toda
série de dispositivos para tornar seus produtos mais seguros, e por fim, nós
usuários desse tipo de veículo, exigindo melhorias tecnológicas em prol da
segurança. Paralelamente, nos cabe também exigir do estado um treinamento que
seja atualizado com os novos produtos, para que possamos estar sempre em dia
quanto aos procedimentos e usos dessas tecnologias. Seja como for, estamos nos
aprimorando – mesmo que em compasso aquém do necessário.
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