segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Um ponto de vista singular


Esposa de moto-aventureiro relata como foi dividir com o marido a paixão pela estrada

Texto: Equipe Trips & Tips e Rafaela Sbrighi

Quantas vezes nós, motociclistas, fomos viajar e deixamos um coração apertado em casa (ou vários)? Muitas vezes, não há o que fazer, a não ser darmos notícias quando possível. Mas, existe uma segunda opção: e se levarmos as “patroas” junto? Sim, na garupa, passando por todos os prazeres, aventuras, emoções e “perrengues” conosco? Certamente, boa parte delas não irá topar – afinal, não podemos obrigá-las a compartilhar dessa paixão conosco, mas em alguns casos, elas vão sim, e gostam!
Por essa razão, nossa coluna está dessa vez diferente: Rafaela Sbrighi compartilhou conosco, e agora com vocês, a experiência de uma longa viagem sob a ótica da garupa. A Rafa é esposa de Vantuir Boppré, um grande amigo nosso, moto viajante experiente, produtor do documentário “Caminhos da América” (http://www.caminhosdaamerica.com/) e autor do livro “Transamazônica, uma estrada para ser vista da lua”. Rafaela topou encarar 15 dias de estrada para tentar descobrir o porquê dessa paixão motociclística de seu marido. E descobriu!

Uma visão única
Por Rafaela Sbrighi
"O desafio foi lançado: vamos viajar de moto? Meu marido é um apaixonado por moto e viagens, e há muito tentava me contagiar com sua emoção para me convencer a acompanhá-lo nelas.
Quando ele me fez essa pergunta, dúvidas surgiram. Será que eu aguento? Não vou me arrepender? Será muito desconfortável? É seguro? É difícil para ele andar com uma garupa? O que posso levar? Enfim, muitos questionamentos. A distância mais longa que nós já havíamos percorrido juntos fora uma viagem de 2000 km dentro do Brasil e agora seria uma de 8000km em 15 dias, fora do país.
Resolvi encarar o desafio e participar dessa paixão. Começamos com os preparativos da moto, uma Yamaha XT660, trocamos o banco por um banco sela, foram colocadas pedaleiras de apoio para o piloto e assim, como garupa, poderia apoiar meus pés nas pedaleiras dele e movimentar um pouco minhas pernas. Foram colocados baús com nossos nomes, montamos um kit com peças, ferramentas e acessórios extras para uma possível necessidade.
Algo que me arrependo foi não ter participado mais do planejamento. Deixei para o Vantuir, que era mais experiente, mas depois percebi que fiquei um pouco perdida em nossos trajetos. Quanto à bagagem - o que muitas devem se perguntar - foi tranquilo, pois como passávamos o dia na estrada e com equipamento de moto, não havia necessidade de muitas outras peças, ou seja, consegui levar tudo que queria, além de deixar um espacinho para trazer as lembrancinhas da viagem! Coube tudo! Surpreendente!
Outro acessório que fizemos questão foi um comunicador, pois em viagens anteriores fazíamos sinais e nem sempre compreendíamos o que queria ser dito. Além disso, o comunicador me permitia escutar música! Adorei!
Tudo pronto! Chegou o grande dia! O começo da viagem foi empolgante por estar saindo, pegando a estrada, excitante pelo fato de conhecer lugares novos e com grande expectativa por fazer uma viagem onde tudo seria diferente, onde meus medos e anseios seriam provados.
Percebi que uma viagem de moto é impar, porque o próprio deslocamento é a curtição, e rodar pelos caminhos, e não pelo destino, faz com que a viagem seja tão rica! Durante esses caminhos passei momentos introspectivos, ótimos para a cabeça descansar, o pensamento fluir e sonhos nascerem. Sentir o frio da manhã, respirar profundamente, assistir a espetáculos do por do sol, nascer da lua, enfim, são momentos ainda mais percebidos quando se está muito perto deles, sem nada que o impeça de vê-los, apenas olhar para os lados, sem janelas e sem barreiras.
Como sempre nossos medos e anseios são maiores do que a realidade. A viagem, como qualquer outra teve seus percalços, mas basta estar preparado e calmo para superá-los. Parar a cada 100 km para descansar, independente de ser no começo ou fim do dia, foi uma meta que nos obrigávamos a cumprir, afinal, ficávamos numa mesma posição grande parte do tempo e assim o corpo agradecia. Criamos ainda outra rotina: caprichar no café da manhã e no jantar. Durante o dia apenas lanches e muita água.
Meu corpo deu sinais de cansaço lá pelo 10° dia. Cheguei a pensar que não aguentaria a volta. Porém no dia seguinte, o caminho que percorremos, cruzando a Cordilheira, foi um dos mais bonitos que já vi na vida. Nesse dia percebi que só uma viagem de moto me proporcionaria aquele cenário, aquela sensação, aquele espetáculo da natureza.
A essa altura já estávamos no caminho de volta, e uma situação inusitada surgiu. Fomos parados por um policial argentino que nos disse que o caminho que seguiríamos estava fechado em razão de chuva, e nos propôs pernoitar na guarita dele. Nossa gasolina já estava na reserva, mas não aceitamos, pois não sabíamos qual era sua intenção, e arriscamos seguir em frente. Nesse momento senti um misto de insegurança, vulnerabilidade e pensei o que fazer se algo nos acontecesse, já que estávamos na Ruta 40, numa área inóspita, com apenas desertos ao redor. Conseguimos chegar ao nosso destino programado sem problemas, não havia interrupção da pista, o policial havia mentido para nós. Já havíamos escutado que alguns policiais naquela área são corruptos, mas essa foi a única vez que tivemos um contato tão próximo. Mais uma lição, sempre pesquisar sobre o caminho que será percorrido, a cultura local, bem como seus costumes.
Outra surpresa para mim foi a interação com outros viajantes de moto, o tempo todo encontrado pelas estradas afora. Eles realmente formam uma grande comunidade!
Arrisquei e não me arrependi! Aprendi que dar a chance de conhecer as paixões de nossos companheiros é como conhecê-lo mais um pouco, mais a fundo. É participar de suas alegrias e assim compartilhar cada momento. Mais importante do que ouvir suas histórias é fazer parte delas. Comecei a entender o que é sentir o vento no rosto, ter uma visão ampla sem janelas, a sensação de liberdade, a emoção e a aventura de viajar de moto. Minha conclusão? Amei! Quando vamos de novo"

Esperamos que vocês tenham gostado do relato sincero e emotivo da Rafa, nós, com certeza, adoramos que compartilhasse essa experiência.
Mostre essa matéria para sua namorada, noiva, esposa ou companheira, quem sabe você não ganha uma parceira de viagens também.
Boa viagem e até o próximo mês!

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