Dicas para pilotos experientes treinarem
e se aperfeiçoarem em uma pista de corridas – 2ª parte
Importante: Os procedimentos a seguir destinam-se a pilotos
experientes que já tenham pilotado em autódromos e que tenham pleno domínio,
tanto da máquina quanto dos procedimentos em uma pista de corridas. Não devem
ser utilizados por aqueles que ainda são novos ao meio, cabendo a esses, rever
o texto publicado anteriormente nessa coluna.
Dando sequência ao que foi tratado na
última edição, agora que já explorou tudo que sua moto pode lhe oferecer em
desempenho com um setup mediano, está na hora de explorar outros recursos para
baixar seu tempo de volta.
Os fatores com que terá de trabalhar
são:
Característica do circuito – de alta,
baixa ou média velocidade.
Característia de sua moto – potência,
capacidade ciclística e freios.
Sua característica como piloto –
preferência ou aptidão maior para curvas de alta, baixa ou média velocidade.
A conjugação desses elementos,
analisados racionalmente, será fundamental para determinar se atingiu ou não
seu pleno potencial.
Circuito
Comece por analisar com qual tipo de atódromo
está interagindo – a predominância das curvas é de baixa, média ou alta?
Leve em consideração que não existe o
setup ideal. Quando se privilegia a atuação da moto em curvas de baixa
velocidade, retira-se parcialmente sua capacidade nas curvas de alta, e
vice-versa. Daí a necessidade de identificar qual é o tipo da pista em que está
trabalhando. Nas pistas aonde há uma predominância de curvas de baixa
velocidade, o acerto deve ser feito em sua função, assim como em pistas aonde
há maior concentração de curvas de alta, o foco deve estar nas mesmas. Caso
exista um mix equilibrado entre diferentes tipos de curvas, terá de procurar um
setup que privilegie as características da moto – sua capacidade em mudar de
direção, frenagem ou com que velocidade e equilíbrio sai de uma curva.
Também é preciso notar a predominância
de direção das curvas – circuitos que tenham mais curvas para a esquerda que
para a direita, terão mais aderência e condições para melhorar o tempo de volta
nessas, uma vez que a temperatura dos pneus estará mais elevada do lado
esquerdo. Já nas curvas para a direita em um circuito assim, deve ser
implementada uma abordagem mais conservadora.
Moto
Toda moto tem características
operacionais que a diferenciam de outras, tornando-a mais apta a uma tarefa
específica. É preciso determinar se sua moto é do tipo potente, ou não, para o
circuito que esteja estudando. Para determinar isso, analise se no trecho mais
veloz chega à velocidade final da moto ou não. Se esgotar a potência da moto,
deu tudo que ela tinha para dar, então a capacidade do autódromo é superior, e
para essa moto, terá de ser tratado como circuito de alta, privilegiando todo o
acerto para essa condição.
Mas caso tenha uma moto de alta
cilindrada e bastante potência, provavelmente terá de acertar a relação para
atingir o máximo de desempenho no trecho mais veloz. Já o acerto das suspensões
terá de levar em conta outras características, como ciclística e capacidade de
frenagem.
Motos leves e curtas se saem muito bem
em trechos de curvas de baixa e mudanças de direção (esses), enquanto as mais
pesadas têm melhor desempenho nas curvas de alta. No tangente a potência, motos
menos potentes devem ser pilotadas de forma mais lançada em curva, evitando
freadas muito fortes para não comprometer a saída de curva pela ausência de
potência. Já as de maior capacidade, devem ser exploradas nos quesitos de
ciclística e freios. Analise aonde a sua moto se situa nessa equação, pois terá
de considerar essas capacidades para determinar aonde poderá atuar para
espremer alguns décimos de segundo.
Piloto
Essa é a peça mais delicada da equação.
Via de regra, todo piloto deveria ser apto a lidar com todo tipo de curvas, mas
na prática, sabemos que isso não é bem verdade. Todos têm alguma preferência –
tipo de curvas que nos são mais fáceis e outras que nos dão certo trabalho.
Para se tornar um piloto mais completo e
eficiênte, terá de encarar suas dificuldades e focar sua atenção naquilo que
pode ser descrito como sua principal deficiência. Provavelmente irá obter mais
tempo de volta resolvendo essas dificuldades que polindo curvas que já faz de
forma veloz. Faça uma aotocrítica honesta e arregaçe as mangas.
Acertos
Agora que já tem uma imagem mais clara
de todo o contexto, cabe experimentar diferentes acertos para sua moto.
Tenha em mente que mudanças no acerto da
suspensão dianteira também afetam o comportamento da traseira e vice-versa.
Para tanto, é fundamental que cada tentativa diferente seja registrada
apropriadamente, para não se perder no processo – aliás, muito comum de
acontecer.
Tudo é uma questão de sensibilidade – é
preciso sentir o que a moto está lhe passando como característica reacional,
cabendo-lhe interpretar esses dados.
Crie um relatório escrito onde possa
anotar qual a regulagem das suspensões adotada e um breve relato do que sentiu
como comportamento desse setup. Seja específico com relação a cada curva, ou
àquelas que sejam de maior relevância.
As regulagens devem ser modificadas em
incrementos mínimos – em motos que possuem "clicks", um de cada vez,
e em motos com parafusos de voltas, ¼ de volta de cada vez.
Se sentir a moto escorregando de forma
"picada" para fora de uma curva, provavelmente estará frente a uma
suspensão muito rígida, e se o comportamento for mais oscilatório, uma suspensão
mole demais. Procure alterar a dianteira e a traseira simultaneamente no
início, para analisar o comportamento que a moto terá. Parta para a regulagem
individual da frente ou traseira somente depois de esgotar o procedimento
anterior. Essa é uma visão generalizada, cabendo a cada piloto interpretar. Não
existem formulas para isso – é uma questão de sensibilidade. Mesmo.
Opte por acertar curvas que melhor se
encaixam nas características de comportamento de sua moto. Explore primeiro
suas qualidades, para depois tentar tratar as dificuldades.
Fique atento aos tempos de volta. Use a
forma seguimentada de cronometragem para trabalhar um set de curvas de cada
vez. Jamais se esqueça de que qualquer setup promovido na moto deverá ser
analisado ao longo de um número de voltas que englobe aquecimento e cerca de 3
voltas rápidas. Leve também em consideração que o desgaste da moto – e
principalmente dos pneus – será crítico na análise. Terá de aprender a separar
o comportamento causado por mudança de setup, do causado por desgaste do
equipamento, e equilibrar os dois.
Espero
que essas linhas gerais de conduta possam lhe ajudar a ser mais rápido e
eficiênte em um circuito. Levante a bandeira do motociclismo e pratique a
velocidade somente em ambientes apropriados. Estradas não se enquadram nessa
definição. Divirta-se com responsabilidade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário